O ex-ministro da Fazenda, ex-presidente do Banco Central e atualmente secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, afirma que a solução que o governo de Jair Bolsonaro quer para adiar o pagamento de precatórios e, desta forma, garantir orçamento ao pagamento de benefícios sociais será uma “espécie de pedalada”. Convém lembrar que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, pelo menos oficialmente, sofreu impeachment ao ser acusada de ter promovido as chamadas pedaladas fiscais nas contas do governo federal.
“Pela proposta, o governo poderá pagar apenas R$ 40 bilhões dos R$ 89 bilhões inicialmente previstos em dívidas judiciais da União para 2022. O restante seria jogado para 2023, dando um respiro para o governo gastar no ano das eleições. Ou seja: para poder acomodar despesas eleitoreiras, o governo vai criar o risco de gerar uma bola de neve nas dívidas judiciais, empurrando com a barriga parte dos precatórios para o ano seguinte – que já vai contar com suas próprias dívidas para saldar”, postou Meirelles hoje (22/09) nas redes sociais.
“Ainda mais grave, essa possibilidade cria uma espécie de ´pedalada´ ao colocar parte dessas dívidas fora das estatísticas fiscais apenas para abrir espaço no teto de gastos para despesas questionáveis. O governo pode ter encontrado uma saída dentro da lei. Mas, na prática, não pagar os precatórios na íntegra é um calote técnico, que pode afetar a confiança dos investidores no país. Mantém-se o risco fiscal. E, com ele, a o ambiente para a alta dos juros, perda de investimentos e por aí vai. Bom pra quem mesmo?”, questiona.
Economia
Não é a primeira vez que Henrique Meirelles critica o governo de Jair Bolsonaro, demonstrando alinhamento com o governador tucano João Doria. Na semana passada fez um cenário pessimista sobre a economia do País, acusando o presidente de provocar crises políticas que afetam o setor produtivo nacional. “Temos o efeito do clima de conflito permanente entre as instituições, o que mina a confiança dos investidores na estabilidade do país. A incerteza sobre a política econômica agrava ainda mais esse quadro. E o governo incentiva essas incertezas sempre que ameaça romper o teto de gastos, parcelar precatórios ou adotar qualquer medida que crie desconfiança na nossa capacidade de cumprir decisões judiciais ou manter a responsabilidade fiscal”, afirmou.
“Tudo isso tem um impacto enorme na nossa economia, das decisões de grandes investidores até a vida do cidadão comum. Essa incerteza, por exemplo, resulta na resistência da alta do dólar que, por sua vez, tá ajudando a manter a inflação em um patamar tão elevado. Sofremos todos. Não se trata de ´narrativas de negativismo´. Temos um problema econômico e as perspectivas de que não cresceremos de novo”, enfatizou Meirelles.
Como se sabe, o goiano Henrique Meirelles filiou no PSD com o projeto de ser candidato a senador (saiba mais aqui, aqui e aqui). Preferencialmente, na chapa do governador Ronaldo Caiado (DEM), que dificilmente dividirá o palanque em Goiás com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no primeiro turno das eleições de 2022.