O governo federal enviará hoje (7/3), de Brasília a Varsóvia (Polônia), uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para cumprir missão de resgate dos brasileiros que deixaram a Ucrânia – com o apoio da diplomacia brasileira – e de transporte de doação humanitária, por solicitação daquele país. A ação interministerial, denominada Operação Repatriação, ocorre de forma integrada entre as pastas da Defesa, das Relações Exteriores e da Saúde.
A aeronave, um KC-390 Millennium que fica sediada na base área de Anápolis, irá decolar às 15 horas da base aérea de Brasília, com 11,6 toneladas de medicamentos para atendimento emergencial, alimentos e itens de necessidade básica com tecnologia para funcionamento autônomo, utilizados em locais sem recursos e em situações extremas, como guerras e conflitos. O pouso na capital polonesa está previsto para quarta-feira e os brasileiros repatriados devem chegar ao Brasil na quinta-feira.
Antes da decolagem, às 14h30, haverá cerimônia com a presença de autoridades do governo, incluindo os ministros Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Braga Netto (Defesa), Marcelo Queiroga (Saúde) e Fernando Simas Magalhães (Relações Exteriores).
Tradição
Resgatar cidadãos brasileiros em outros países é uma tradição das Forças Armadas. Em 2020, houve o resgate de brasileiros em Wuhan, na China, devido a pandemia de Covid-19. Em 2006, na Turquia, resgatou brasileiros durante conflito envolvendo o Líbano. São ações conhecidas, popularmente, como missões de repatriação. O sentimento daqueles que retornam ao Brasil, diferente do que se pode imaginar, por vezes, é um misto de alegria e alívio ou, mesmo, de tristeza, pois alguns deixam entes queridos no local.
A missão de repatriação começa por uma decisão do próprio país, por determinação do governo federal, de atender ao chamado daqueles que se encontram em situação vulnerável. É realizada uma análise da conjuntura internacional, sempre pensando na proteção dos cidadãos brasileiros, dos bens e do patrimônio nacional situados além das fronteiras do Brasil.
Os Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Defesa (MD) entram em campo para articular todas as fases seguintes. É necessário escolher um local seguro, fora da área de confronto, e levar todos para lá. Quanto mais o tempo passa, maiores são os riscos do conflito piorar. Enquanto o MRE coordena a etapa de mobilização dos brasileiros em território estrangeiro, mediante coordenação com embaixadas; de suporte logístico; e de negociação com órgãos e autoridades locais, o MD aciona as Forças Armadas para planejamento da operação militar, com apoio de adidos militares creditados nos países envolvidos e emprego de meios e recursos necessários à condução da operação. O trabalho do Itamaraty não é fácil. As pessoas precisam estar lá no dia e na hora combinados.
Por outro lado, também, são muitos os detalhes a cargo dos militares. O planejamento é sensível e complexo. A Marinha entra num contexto de transporte marítimo; o Exército, terrestre; e a Força Aérea via espaço aéreo. Definir o meio de transporte e a quantidade correta; estabelecer a melhor rota, os locais de destino, de alternativa e necessárias paradas técnicas; solicitar autorizações para adentrar ou sobrevoar outros países; escalar tripulações; coordenar a emissão de passaportes e visto. Enfim, tudo tem que ser muito preciso. Mudanças de planos e intercorrências podem acontecer, mas devem ser mínimas.
Tudo certo na fase gerencial. O resgate inicia quando a embarcação, o veículo ou a aeronave parte e só vai terminar quando os repatriados chegarem ao Brasil. A depender do número de pessoas, como já aconteceu outras vezes, Operações de Recuperação de Nacionais podem ser realizadas repetidas vezes, até que todos estejam de volta ao seu país de origem. Somente países livres, independentes e soberanos têm a capacidade de cuidar dos seus, aqui ou em qualquer lugar do mundo.