O Banco Central tem, desde o segundo semestre de 2020, errado muito e subestimado a alta da inflação no Brasil. A instituição estimou para baixo 9 de 13 projeções. Na mais recente, calculou uma inflação de apenas 0,39% em julho, enquanto o IBGE apontou uma taxa de 0,96% — a maior para o mês desde 2002. Mesmo com o avanço nos preços de alimentos, o BC manteve o discurso de que as elevações eram transitórias. Apenas em junho de 2021 que mudou e começou a ver uma pressão mais duradoura dos alimentos, devido a alta nos preços de energia elétrica e a retomada do setor de serviços.
Na ata da sua última reunião, o BC destacou que há “novas pressões” causadas pela crise hídrica e as geadas. Além disso, destacou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções de inflação. O diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, disse que a instituição tem se surpreendido a cada ciclo do Copom com a inflação, reconhecendo que aumentos de preços em commodities têm sido mais persistentes do que no passado.
Em Goiânia, o item com maior peso na cesta de compras das famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos é a gasolina. No IPCA, ela subiu 2,10% em julho e acumula alta de 28,31% em 2021, conforme divulgou ontem o IBGE. Ao todo, o indicador mensal na capital acelerou para 0,92% – a maior variação para o mês desde 2002 – com acumulado de 4,58% no ano.
O descontrole da inflação tem obrigado o BC a elevar os juros no Brasil e isto pode piorar o endividamento dos brasileiros. A taxa subiu para 5,25% na semana passada e, segundo a economista Marcela Kawauti o risco do endividamento virar inadimplência é grande, pois muitas famílias ainda dependem de incentivos do governo concedidos ao longo da pandemia, como o auxílio emergencial. A situação já não era boa: a parcela de endividados bateu recorde em julho e se tornou a maior em 11 anos.
E os juros só sobem. Depois de uma longa temporada de corrida dos grandes bancos para baixar os juros do crédito imobiliário, o ciclo se inverteu. Com a previsão de momentos mais difíceis para a economia brasileira, alguns dos maiores bancos privados do Brasil aumentaram as taxas cobradas no crédito imobiliário em cerca de 0,5 a 1,0 ponto porcentual, chegando perto de 8% ao ano.