A conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP26) vai até o dia 12, mas a participação de chefes de Estado terminou ontem (2/11) com dois anúncios ambiciosos. E, para surpresa de muitos, o Brasil aderiu a ambos. O primeiro compromisso foi o corte em 30% de emissões de metano até 2030. O gás corresponde a 17% das emissões causadoras do efeito estufa e é muito mais nocivo que o gás carbônico. O acordo não é juridicamente vinculante, ou seja, não prevê punições a quem o descumpra, e China, Índia e Rússia ficaram de fora.
A adesão do Brasil não foi resultado de uma intensa pressão dos EUA. Em 2020, o país emitiu 20,2 milhões de toneladas de metano, sendo 72% da agropecuária, e é forte a resistência no agronegócio a mudar as formas de criação do gado para manejos menos poluentes. Porém o presidente Joe Biden vê o acordo como um passo fundamental para acelerar a aprovação pelo Congresso americano de seu pacote por energia limpa. Biden criticou duramente Rússia e China por “virarem as costas” às questões climáticas.
O segundo acordo – que contou com a adesão também da China – prevê zerar o desmatamento até 2030 com investimentos públicos e privados de US$ 19,2 bilhões. A participação do Brasil também surpreendeu, uma vez que, além de ir na contramão das políticas aplicadas pelo Ministério do Meio Ambiente, o acordo prevê a valorização dos povos indígenas, considerados mais eficientes na proteção das florestas.
O alto escalão do Ministério da Agricultura brasileiro está preocupado com a parte do acordo que defende ênfase no comércio de commodities desvinculadas de desmatamento. O temor é de que os termos do texto sejam levados à Organização Mundial do Comércio e que isso prejudique as exportações do país. Oito instituições financeiras e empresas do agronegócio anunciaram um compromisso de US$ 3 bilhões para a produção de soja e gado livre de desmatamento na América do Sul. Entre as empresas que firmaram o compromisso estão a Syngenta e o Grupo Gaia.