A reação do governador Ronaldo Caiado (UB) às declarações do desembargador Adriano Roberto Linhares Camargo, do Tribunal de Justiça de Goiás, sobre a Polícia Militar de Goiás, tem duas linhas. A primeira, é de defesa da corporação policial, algo que Caiado sempre fez e tem na categoria uma base de apoio importante. A segunda é política: o governador, pré-candidato à presidente da República em 2026, busca maior aproximação com eleitor da direta, especialmente o bolsonarista, que tem longo histórico de conflitos com o Poder Judiciário no Brasil.
O desembargador, em sessão de julgamento da Seção Criminal do TJGO nesta quarta-feira (1/11), se posicionou contra a PM de Goiás. “Aqui vai uma reflexão pessoal: para mim, tem de acabar com a Polícia Militar e instituir uma forma diferente de atuação na área de investigação e de repressão ao crime. A Polícia Militar, como reserva técnica do Exército, é para enfrentar inimigo. É este o seu papel. E é por isso que vemos abusos e excessos seguidos, recorrentes. A PM de Goiás é invisível. Vejam nos jornais a quantidade de confrontos e ninguém leva um tiro. Morrem quatro, cinco, seis. Não é por preparo, não. Nós sabemos por que é”, disse durante a sessão.
A reação de Ronaldo Caiado foi muito forte. Primeiro, questionou o preparo jurídico do desembargador goiano. “Não tem a qualificação mínima para ser desembargador do Estado”, disse em vídeo postado nas redes sociais. Afirmou que a criação da PM está prevista na Constituição. Em seguida, levantou suspeita sobre a real intenção do desembargador: “Quando você pede a extinção da PM, você está atentando contra o Estado Democrático de Direito ou, quem sabe, está cooptado por outras forças do crime no nosso Estado de Goiás”, enfatizou. Por fim, Caiado afirmou que o seu governo vai pedir o impeachment de Adriano Roberto Linhares ao Conselho de Ética do TJGO.
Bombeiros
Adriano Roberto Linhares disse, depois das declarações do governador, que lamenta o mal estar. Enfatizou que a sua fala não teve objetivo de atacar ninguém. O TJGO afirmou em nota que se tratou de uma opinião pessoal do desembargador e que a PM, “historicamente, tem prestado relevantes serviços à população goiana e merece o respeito e a consideração do Tribunal”. Afirmou que uma possível abertura de processo contra o desembargador será examinada após tomar conhecimento de todos os fatos.
A declaração do desembargador, embora ele tenha mesmo adiantado inicialmente que era de ordem pessoal, talvez não coubesse numa audiência de julgamento do TJGO. As opiniões pessoais de magistrados, muitas vezes polêmicas, têm sido cada vez mais constantes nestas ocasiões. Mas, a reação do governador talvez tenha sido também desproporcional, ao atacar pessoalmente o desembargador, levantar suspeita de que ele teria ligação com o crime organizado e ainda pedir o seu impeachment por uma opinião pessoal.
O fato é que, segundo fontes no governo estadual e no Poder Judiciário, bombeiros entraram em ação para apagar este incêndio, que tem potencial para afetar a atual boa relação entre os Poderes Executivo e Judiciário em Goiás. Nenhum lado quer isso. Provavelmente, segundo estas fontes, o governador desista de levar adiante o pedido de impeachment do desembargador, que já fez uma mea-culpa. Até porque, juridicamente, teria pouco resultado. Caso contrário, um processo no Conselho de Ética do TJGO vai exigir novos posicionamentos de ambos lados. O que aumentará, certamente, a fervura deste caldeirão.