O depoimento nesta quarta-feira (22/3) do presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Alisson Borges, à CEI na Câmara de Goiânia, virou tema de forte debate entre vereadores da oposição e da base do prefeito Rogério Cruz (Republicanos). A vereadora Aava Santiago (PSDB) criticou. Disse que o presidente teria apontado como culpado pela dívida da empresa um contrato firmado com a Prefeitura de Goiânia, em 2021, quando Rogério Cruz (Republicanos) já estava no Paço.
“Ele assume, então, que o déficit mensal de R$ 10 milhões é culpa do prefeito?”, questionou. “Talvez ele tenha se esquivado por causa do número de parentes dele empregados lá.” Edimar Ferreira da Silva, sogro de Alisson, trabalha na Comurg com vencimento base de R$ 1,4 mil, mas recebeu R$ 21 mil líquidos em fevereiro deste ano, por causa de gratificações. Já Alberto Simão Borges, pai de Alisson, tem vencimento de R$ 4 mil na empresa, porém seu salário líquido foi de R$ 15 mil, também em fevereiro.
O vereador Paulo Magalhães (União Brasil) afirmou que o presidente da Comurg confessou crimes no depoimento. “Ele não tem responsabilidade nem competência para presidir a empresa. A CEI tem que ser séria, fiscalizar e garantir a punição de quem comete crimes”, disse.
Defesa
Para o líder do prefeito na Câmara, Anselmo Pereira (MDB), a oposição tem errado a mão nas críticas à Prefeitura em relação à Comurg. Segundo ele, o presidente da empresa não disse desconhecer dívidas, mas apenas não soube precisar o valor. Quanto ao trabalho e aos salários do pai e do sogro do presidente, o vereador destacou que não se trata de algo ilegal. “Pode ser questionado moralmente, mas acredito que, se eles trabalham corretamente, não há problemas”, disse.
O líder do prefeito comentou também sobre críticas feitas à viagem de Rogério Cruz no início da investigação da CEI. “É de uma pequenez absurda essa discussão. O prefeito foi participar de um simpósio sobre cidade inteligente. É o papel dele. A oposição precisa se aparelhar melhor”, afirmou.
Parentes
O presidente da Comurg, Alisson Silva Borges, respondeu nesta quarta-feira (22/3) a questionamentos dos membros titulares da CEI durante cerca de três horas. Sobre possíveis casos de nepotismo; pagamentos antecipados pelo Executivo por obras não concluídas; dívidas; cargos comissionados e folha de pagamento; jetons; gastos com combustível e manutenção de veículos; e contratos com fornecedores.
Logo no início da reunião, em sua primeira pergunta, o presidente da CEI, Ronilson Reis (PMB), quis saber do presidente da Comurg se ele tinha parentes na empresa. Ao responder que sim, e nomear o pai (Albertino Simão Borges) e o sogro (Edimar Ferreira da Silva), Alisson Borges foi questionado sobre as indicações, gratificações e cargos que ambos ocupam dentro da companhia.
“Meu sogro já ocupava essa função de diretor de Urbanismo quando assumi a gestão da empresa; não foi indicação minha. Ele já era diretor, inclusive, quando o prefeito Rogério Cruz assumiu”, justificou o presidente da Comurg. Sobre o pai, Alisson Borges destacou que ele é servidor de carreira desde 1983, e, como tal, em 40 anos de serviços prestados, conquistou benefícios. Frisou ainda que todas as indicações são feitas pelo chefe do Executivo e apreciadas e votadas pelo Conselho de Administração da Comurg. De acordo com Alisson, a avaliação interna do órgão é de que os casos não caracterizam nepotismo.
Antecipação de pagamentos
O depoimento à CEI revelou uma série de problemas na gestão da companhia, que enfrenta déficit superior a R$ 200 milhões. Alisson Borges, contudo, não soube precisar o tamanho do rombo. Ele citou dívidas trabalhistas, tributárias, com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além de pagamentos em duplicidade. Os valores de R$ 8 milhões adiantados à Comurg pela Prefeitura, referentes a contratos de emendas impositivas e de obras nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e no Cemitério Parque – serviços ainda não concluídos – foram ponto de destaque na reunião da comissão.
O presidente da empresa admitiu que recursos foram utilizados para pagar fornecedores e afirmou ter sido a ex-secretária de Relações Institucionais, Valéria Pettersen, quem emitiu nota fiscal para que a companhia recebesse de forma antecipada, mesmo sem executar as obras. Ele não soube dizer se o prefeito Rogério Cruz tinha conhecimento dos pagamentos antecipados.
As declarações de Alisson Borges levaram o vice-presidente da CEI, vereador Welton Lemos (Podemos), a solicitar que Valéria Pettersen também seja convocada para prestar esclarecimentos. Outro que deverá ser ouvido pelos parlamentares é o ex-presidente da Comurg, Alex Gama, antecessor de Alisson. Relator da CEI, o vereador Thialu Guiotti (Avante) pediu urgência na convocação de diretores e gerentes administrativos e financeiros da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), da Controladoria-Geral do Município, da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais (Imas) e também da Comurg.