O coach goiano Pablo Marçal, fenômeno nas redes sociais e na vida real com suas palestras motivacionais de tom messiânico, já foi condenado pela Justiça Federal por integrar uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos. Os desvios ocorreram em 2005, quando Pablo tinha somente 18 anos, e ele argumenta que prestava apenas serviço de manutenção de computadores para membros da quadrilha, mas sem ter conhecimento das atividades criminosas do grupo.
A sua defesa não convenceu a Justiça Federal, que lhe aplicou em 2010 uma pena de 2 anos e meio de reclusão pelo crime de furto qualificado, mas a pena foi extinta em 2018 por prescrição retroativa, já que passaram mais anos do que a sentença em trânsito em julgado. A revelação do processo foi feita hoje pelo site Metrópoles.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Pablo era o responsável por capturar listas de e-mails para o pastor Danilo de Oliveira, um dos líderes do grupo. Eram disparados para esses mails arquivos infectados com programas invasores, com o objetivo de obter dados e senhas dos correntistas lesados.
O próprio Pablo já havia tratado do assunto anteriormente em uma de suas transmissões nas redes sociais, mas assegurou que não tinha conhecimento do golpe e que por isto foi o único que não teve que cumprir pena. Ao Metrópoles, o MPF afirmou que a tese de inocência é contraditória com os próprios depoimentos de Pablo à época.
“As próprias declarações de Pablo na polícia são discrepantes com a tese de inocência defendida, principalmente quando comenta a participação de Paco, na parte que este teria acesso a ‘todas as contas bancárias que seriam fraudadas por Danilo e Nenê’”, argumenta o órgão. O coach, de acordo com o MPF, também teria participado de almoço com os líderes da quadrilha para discutir a compra de um programa invasor.
Contudo, a defesa de Pablo sustenta a tese de que a extinção da pena está relacionada à sua inocência. “Na época dos fatos, o meu cliente trabalhava consertando computadores para um pastor e foi colocado indevidamente nesse processo que desenrolou por vários anos”, afirmou ao Metrópoles a advogada Danielle Premoli. “Com relação ao crime, o meu cliente foi o único que teve extinta a sua punibilidade”.
Pablo Marçal realizou no dia 30 de dezembro um grande evento no Goiânia Arena, com a presença de mais de 15 mil pessoas. Ele tem mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, se diz “mentor de coachs e estrategista” e usa uma oratória que mescla mensagens motivacionais com pregação religiosa.
O coach, que hoje vive em São Paulo, afirma que é uma das pessoas mais ricas do Brasil, gosta de exibir carros de luxo e ganhou grande destaque (negativo) na imprensa nacional ano início do ano ao colocar em risco a vida de cerca de 30 alunos durante uma expedição ao Pico dos Marins, no interior de São Paulo, em condições altamente adversas. Nos vídeos que gravou no local, ele dizia aos alunos que bastava fé e determinação para superar o tempo ruim, cansaço e a falta de visibilidade.
Ao final, os Bombeiros tiveram que subir o pico para resgatar o grupo, numa operação que durou 9 horas. No dia seguinte, Pablo Marçal foi para as redes sociais rebater as críticas que recebeu. “Algumas pessoas não suportam quem corre risco. Se você é uma pessoa que não corre risco, dificilmente você vai governar ou chegar no topo. Na nossa subida ontem na montanha, a gente correu muito risco. Aí alguém me fala: ‘Mas pra que correr risco?’. Se você não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories”, afirmou.
Outro vídeo que circulou esta semana nas redes sociais mostra Pablo Marçal, num evento com milhares de pessoas, pedindo para uma mulher de cadeira de rodas se levantar e tentar andar. Auxiliares seguram ela e chegam a tirá-la da cadeira. Pablo pede ao público e a ela que se concentrem e acreditem no milagre. A mulher, evidentemente, não consegue ficar de pé e é colocada de volta na cadeira de rodas, constrangida.