O presidente norte-americano Donald Trump venceu rapidamente sua primeira queda de braço com a América Latina por conta das deportações de imigrantes ilegais. Sob a ameaça de sanções comerciais, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, cedeu e aceitou que aviões militares dos Estados Unidos pousassem no país trazendo de volta colombianos deportados.
Até domingo (26/1), diante da recusa de Petro de aceitar os voos, a Casa Branca havia anunciado, entre outras medidas, uma taxação de 25% sobre todos os produtos colombianos, a ser elevada para 50% em uma semana.
O governo de Bogotá chegou a anunciar uma taxação igual para importações dos EUA, e Petro, que já foi preso político, publicou em redes sociais em recado a Trump: “Resisti à tortura e resisto a você”.
À noite, porém, a chancelaria colombiana divulgou uma nota dizendo que “o impasse com o governo americano havia sido superado”. Trump suspendeu as tarifas, mas manteve, por exemplo, a restrição à emissão de vistos para colombianos até o pouso do primeiro voo de deportados. E comemorou a vitória: “Os eventos de hoje deixaram claro para o mundo que a América voltou a ser respeitada”, disse, em nota.
Brasil
O envio de deportados também criou tensão em Brasília. O voo que trouxe 88 brasileiros, com relatos de violência, maus-tratos e pessoas algemadas, causou o primeiro incidente diplomático entre os governos Lula e Trump.
O Itamaraty publicou ontem uma nota sobre os brasileiros que desembarcaram em Belo Horizonte às 21h10 de sábado. Eles chegaram à capital mineira já sem algemas, retiradas por ordem do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, após o avião descer em Manaus por problemas técnicos.
Na nota, o ministério das Relações Exteriores afirma que o uso indiscriminado de algemas viola os termos de um acordo firmado entre os dois países “que prevê tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados”.
“O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas não sejam respeitadas”, diz o Itamaraty, sem citar os termos do acordo. O Itamaraty também disse ter pedido explicações aos Estados Unidos sobre o “tratamento degradante dispensado aos passageiros”.
Já a presidente de Honduras, Xiomara Castro, convocou para esta quinta-feira (30/1) uma reunião extraordinária da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que ela também preside, a fim de discutir as deportações.
Rotina
Deportar brasileiros virou rotina já há algum tempo, segundo dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA. Foram 7.168 enviados de volta ao Brasil apenas na gestão de Joe Biden. O país expulsou mais brasileiros na era Biden do que em governos anteriores, entre eles o primeiro mandato de Trump.
Brasileiros representaram uma proporção maior entre os deportados pelo democrata, com 1,3% do total na última administração, 0,7% na de Trump e 0,4% na de Barack Obama.
Caça americana
“Czar da fronteira” de Trump, responsável pela missão de comandar a “maior deportação da história” do país, Tom Homan, um ex-agente da patrulha de fronteira, esteve em Chicago neste domingo para acompanhar operações em busca de imigrantes ilegais.
A ação marca o início de uma fiscalização mais severa na terceira maior cidade dos Estados Unidos, enquanto agências federais têm prendido pessoas em todo o país – foram 956 apenas no domingo, mais que o triplo do número médio de presos por dia (311) no ano passado.