Depois de uma semana agitada no governo Bolsonaro em função do Auxílio Brasil, a certeza entre os analistas é de que o cenário econômico brasileiro pode piorar. Desde o anúncio do novo valor do programa social, de R$ 200 para R$ 400, as instituições brasileiras vêm revisando suas projeções para a taxa de juros. Para a próxima semana, na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), a aposta é de alta de 1,25 a 1,5 ponto. Em 2022, algumas instituições já estimam os juros na casa dos 10% (Credit Suisse fala em 10,5%; XP fala em 11%).
Os efeitos da manobra do governo no teto de gastos para financiar o substituto do Bolsa Família serão sentidos no ano que vem, reforçando um cenário já previsto por economistas: o de crescimento baixo com inflação alta – estagflação.
Para emplacar o Auxílio Brasil de R$ 400 e o consequente estouro do teto de gastos, Jair Bolsonaro obteve a anuência do ministro da Economia, Paulo Guedes, tido como o liberal mais ortodoxo a ocupar o cargo. Como uma indicação de que o ministro não será um entrave às iniciativas do governo, Bolsonaro afirmou ontem que ele e Guedes vão “sair juntos” e “bem lá na frente”.
O estouro do teto custou a saída de quatro integrantes do Ministério da Economia e uma reação forte do mercado financeiro, mas o ministro mostrou mais uma vez alinhamento com Bolsonaro e cobrou do Congresso aprovações de reformas que, segundo ele, viabilizariam o auxílio de R$ 400.
Instabilidade
Mas, em que pese o discurso alinhado e os afagos, a situação do ministro foi instável nos últimos dias da semana. Dois representantes de Bolsonaro estiveram em São Paulo sondando possíveis substitutos para Guedes. Havia o temor de que ele se demitisse diante do ataque à política fiscal, mas isso não aconteceu, e o ministro incorporou o discurso da necessidade de elevar o Auxílio Brasil. Com isso, Bolsonaro foi na tarde de sexta-feira ao Ministério da Economia sacramentar a rendição, dizendo ter “confiança absoluta” em Guedes, que, por sua vez, negou ter pedido demissão, como circulou em Brasília.
Só que o estrago no mercado já estava feito. O drible no teto de gastos mexeu com o Ibovespa, o principal índice do mercado de ações brasileiro, que encerrou a semana com o pior fechamento do ano e acumulou um tombo de 7,28%, a pior queda no período, voltando ao patamar de novembro do ano passado. No fim do pregão, o índice terminou a sessão em queda de -1,34%, aos 106.296 pontos. O dólar chegou a bater os R$ 5,72, mas fechou com queda de -0,70%, cotado a R$ 5,63.
Com a quebra do teto, os remanescentes da área técnica do Ministério da Economia veem fragilidade fiscal e temem novos avanços da ala política do governo para viabilizar projetos de potencial eleitoral. Embora seja feito com o objetivo de reeleger Bolsonaro, o desmonte do teto para o Auxílio Brasil vai deixar uma bomba-relógio para explodir no colo do presidente que assumir em janeiro de 2023, dizem especialistas.