O Brasil empobreceu nos últimos anos. A recessão já era visível em 2014 e ficou forte em 2015 e 2016. Houve a queda do PIB de 2020, provocada pela pandemia. Este ano, o crescimento vai apenas neutralizar a perda de produto do ano passado, mas em 2022 a economia estará de novo estagnada. Isso aumentou o número de pobres. A inflação alta está agravando a perda de renda. O desemprego persistente piorou o drama social brasileiro. É preciso mais recursos para as políticas de transferência de renda.
Mais que um tema da campanha eleitoral de 2022, o aumento da pobreza é um problema real e imediato. Segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 20 milhões de brasileiros passam um dia ou mais sem ter o que comer. Além disso, o número de favelas no país mais que dobrou em dez anos.
O total de pessoas que buscam comida no Banco de Alimentos da Ceasa-GO, que já havia saltado de uma média de 100 antes da pandemia para em torno de 500 ao longo de 2020, passou para mais de 800 a partir de março de 2021 e desde julho ultrapassou a marca de mil, segundo reportagem do jornal O Popular. Estas informações constam em relatórios divulgados mensalmente pela instituição. Em setembro, houve um aumento de 111% do número de pessoas que se cadastraram para pegar uma vez por semana uma cesta de verduras, frutas e legumes, em relação ao mesmo mês no ano passado.
Na classe média, o drama econômico toma outra forma: o endividamento das famílias atingiu um nível recorde. Com os juros de bancos em níveis extorsivos — eles nunca de fato diminuíram apesar de o BC ter reduzido os seus —, em média as dívidas que as famílias pagam correspondem a 59,9% de suas rendas anuais. Quase 60%. Em agosto, de acordo com o Banco Central, em média a renda das famílias cruzou os 30% de comprometimento para pagar parcelas de empréstimos, cartões de crédito e o que for. A inflação nos alimentos e na energia ajuda a aumentar a pressão sobre o orçamento familiar e aponta para uma crise econômica.
Previsões do FMI
O FMI fez uma leve revisão para baixo de sua projeção de crescimento econômico global. Para o PIB global, a expectativa é de um avanço de 5,9% contra 6% esperados em julho passado. Em relação ao Brasil, a previsão de crescimento em 2021 é de 5,2% no PIB, uma diminuição de 0,1 ponto percentual. Para 2022, a alta projetada é de 1,5%, 0,4 pontos percentuais a menos que o relatório anterior. O fundo também revisou as projeções de inflação. No caso do Brasil, o FMI espera uma alta de 7,90% no IPCA de 2021 e de 4% em 2022.
Já os números divulgados no boletim Focus do Banco Central (BC) na segunda-feira mostram estimativas ainda mais altas para o IPCA. A expectativa do mercado financeiro para a inflação deste ano subiu de 8,51% para 8,59%. Para 2022, de 4,17%. Na análise do relatório, o FMI destacou preocupações sobre a recuperação econômica global, que segue em ritmo lento por conta da pandemia do coronavírus, além da emergência climática.
As perspectivas não são melhores. A regras do Auxílio Brasil, programa assistencial visto como trunfo eleitoral do governo Bolsonaro, congelam ou mesmo reduzem o benefício de 5,4 milhões de famílias que hoje recebem o Bolsa Família. São 37% dos atuais beneficiários.
Em entrevista à CNN nos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a alta dos preços é algo generalizado em todo o mundo e que, no Brasil, a elevação dos valores de alimentos e energia são os maiores culpados para a inflação atual. “Por isso, nossa proteção (social) ainda está lá. Vamos manter essa proteção. Vamos aumentar a transferência direta de renda para a população pobre para cobrir os preços dos alimentos e da energia”, afirmou Guedes, referindo-se ao auxílio emergencial.