O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), Sandro Mabel, tem atacado duramente a política industrial (ou a falta dela) do governo de Ronaldo Caiado (União Brasil). “Se a indústria em Goiás dependesse do governador Caiado, estaria morta”, afirmou. Algumas de suas críticas são pertinentes. Outras nem tanto e precisam ser melhor contextualizadas.
É necessário pontuar que Sandro Mabel defende abertamente a pré-candidatura do ex-prefeito Gustavo Mendanha (Patriota) ao governo de Goiás. E que suas críticas ao governador Caiado não refletem, necessariamente, o posicionamento predominante na maior entidade empresarial de Goiás.
Mabel critica, por exemplo, que o atual governo Caiado retirou, desde 2019, mais de R$ 3 bilhões das indústrias com incentivos fiscais via aumento do Fundo Protege. “Isso fez com que as indústrias deixassem de investir na produção para bancar despesas do governo, muitas vezes com finalidades políticas e eleitoreiras”, criticou.
É fato que o atual governo aumentou a sua arrecadação ao reduzir os incentivos fiscais no Estado, cobrando das empresas uma taxa maior ao Fundo Protege. Isto gerou uma intensa queda de braço com o setor produtivo em 2019, com alguns dos maiores empresários goianos indo parar no banco dos réus de uma CPI na Assembleia Legislativa.
No final, o governo conseguiu o que queria.
Em seguida, numa articulação com a Adial, entidade que representa diretamente as empresas com incentivos fiscais no Estado, o governo iniciou a construção de um novo programa, batizado de ProGoiás. Alguns benefícios fiscais foram até ampliados para determinados segmentos, mas se manteve a arrecadação anual de R$ 1 bilhão do Fundo Protege.
“O programa que Caiado criou dá apenas condições para que o empresariado alivie um pouco a carga que o governo jogou em cima de outros programas, como o Fomentar e o Produzir. Goiás sempre teve em todos os governos um ambiente de segurança jurídica e isso não temos mais. Empresários acabam indo embora ou, por não terem estrutura para sair do Estado, migram para o ProGoiás para amargar prejuízo menor”, criticou Mabel.
Mas, a Adial promoveu recentemente um jantar em homenagem ao governador Caiado. Ou seja: a entidade que representa as empresas com incentivos fiscais em Goiás avalizou e reconheceu a nova política industrial do Estado.
Outro embate do governo Caiado com o setor produtivo aconteceu no auge da pandemia da Covid-19, quando foram impostas medidas de restrições econômicas no Estado. Lideranças empresariais chiaram e o governador foi para o ataque, dizendo que faltava sensibilidade aos empresários, que estes eram movidos apenas pelos lucros.
Investimentos privados
O presidente da Fieg critica também que indústrias teriam deixado de investir em Goiás, sejam em novas fábricas ou na expansão das existentes, nos últimos três anos. “Gostaria que Caiado respondesse: qual foi o grande investimento que veio para Goiás no governo dele? A resposta é: nenhum. Com Caiado, Goiás é um atraso total na área da industrialização”, enfatizou.
É preciso considerar que a própria pandemia congelou os investimentos privados em todo o País (e no mundo) em 2020 e início de 2021. Poucos segmentos, como alimentação (agronegócio) e medicamentos, tiveram condições de aportar novos investimentos. Há também a recessão econômica no Brasil, agravada com o aumento dos juros para se combater a inflação, que inibe investimentos privados.
O atual governo goiano afirma que, desde 2019, cerca de R$ 15 bilhões em novos investimentos privados aconteceram em Goiás. Entretanto, não os detalha (quais, onde, quando, em que?).
E é fato: o governador Ronaldo Caiado participou de pouquíssimas inaugurações de grandes empresas em Goiás desde o início do seu mandato. Se investimentos privados aconteceram e novas empresas foram abertas, com geração de empregos no Estado, no mínimo o governo perdeu boas oportunidades.
A relação do governador Caiado com as entidades e lideranças do setor produtivo goiano (empresários e trabalhadores) nunca foi de muita proximidade, embora tenha prevalecido a boa convivência na maioria dos casos.
Esta pouca sintonia ou prioridade do atual governo com o setor produtivo, que se reflete até na sua comunicação, faz passar despercebidas suas ações que buscam promover a “retomada” do crescimento econômico de Goiás. O que abre espaço para críticas quando Ronaldo Caiado tenta capitalizar para a sua gestão os indicadores positivos da economia goiana.