O governo Lula (PT) busca alternativas para driblar as barreiras impostas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o Centrão. E o que mais tem ganhado força é a aproximação do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF). O estreitamento das relações com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), à frente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde passam os temas mais relevantes, ficou evidente nos últimos dias.
Em meio à crise da MP dos Ministérios, Pacheco foi um contraponto: garantiu que o projeto passaria com rapidamente na Casa. Além disso, desacelerou o trâmite do marco temporal das terras indígenas – aprovado na Câmara na semana passada –, submetendo-o a comissões para que, enquanto isso, o tema seja julgado pelo STF. E fez o mesmo com o projeto do saneamento, também já aprovado pelos deputados.
Já Alcolumbre foi convocado por Lula para um encontro no Palácio do Planalto para tratar da crise dos ministérios. O senador se disse disposto a agir para reduzir a tensão com o Congresso. Para isso, o governo avalia entregar um ministério ao deputado Celso Sabino (União-PA), correligionário de Alcolumbre e próximo de Lira.
STF
Quanto ao STF, a orientação é que acontecimentos do passado não interfiram nas discussões do governo. Por isso, é necessário manter diálogo com os 11 integrantes do Supremo, eliminando qualquer barreira com os indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o grupo que foi mais alinhado à Lava-Jato.
Ainda como forma de enfrentar Lira e contrariando uma prática instaurada sob Bolsonaro, o governo Lula tem procurado aliados do presidente da Câmara dos Deputados para oferecer cargos e verbas e convidar para reuniões exclusivas. Tudo isso sem passar antes por Lira, esvaziando seu poder, já que ele tem considerável influência sobre cerca de 300 deputados. “Na prática, estão querendo tirar todo o fluxo que antes ficava com o Arthur e concentrá-lo na Secretaria de Relações Institucionais”, disse um líder partidário à revista Veja.
A propósito…
A PF descobriu, na investigação sobre supostos desvios para compra de kit de robótica com dinheiro público, que o empresário Edmundo Catunda repassou R$ 550 mil à empresa que construiu a casa em que mora Luciano Cavalcante – auxiliar de Arthur Lira, conhecido em Brasília como uma das pessoas de confiança do presidente da Câmara. Catunda é de uma família alagoana aliada de Lira e um dos sócios da Megalic, empresa que ganhou os contratos do kit de robótica sob suspeita de desvios de verba federal.