Na primeira entrevista exclusiva desde a eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou à jornalista Natuza Nery (Rede Globo) que ficou com a “impressão de que [o ataque a Brasília do dia 8 de janeiro] era o começo de um golpe de Estado”. E continuou: “Fiquei com a impressão, inclusive, que o pessoal estava acatando ordem e orientação que o Bolsonaro deu durante muito tempo.”
O presidente acrescentou que acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “estivesse esperando voltar ao Brasil na glória de um golpe”. Lula revelou ainda que não optou pela Garantia da Lei e da Ordem (GLO) por querer exercer o cargo de presidente em sua plenitude. E que a inteligência do governo nas vésperas do ataque “não existiu”.
“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica. Se eu soubesse na sexta-feira que viriam 8 mil pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília”, disse.
Calado
O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, ficou calado em depoimento à Polícia Federal. Preso no 4º Batalhão da Polícia Militar do DF, Torres disse que não tinha declarações a dar aos investigadores. Seu advogado, Rodrigo Roca, já havia sugerido que seu cliente não falaria antes de ter acesso aos autos do inquérito. Torres deve prestar um novo depoimento à PF na próxima semana. A expectativa é que ele apresente sua versão para as acusações e sobre a origem da minuta.
O ex-secretário é alvo de investigação por suspeita de omissão na contenção dos atos de bolsonaristas extremistas no dia 8, em Brasília. Sua prisão foi decretada, por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes, quando Torres estava de férias em Orlando, nos Estados Unidos. Dois dias depois, ao cumprir mandato de busca na residência de Torres também por ordem de Moraes, a PF encontrou uma minuta de decreto para Bolsonaro, ainda presidente, instaurar estado de defesa na sede do TSE e reverter o resultado da eleição.
Quem não se calou foi o número 2 de Torres, o ex-secretário-executivo de Segurança Pública do DF, Fernando Oliveira. Ele também prestou depoimento e entregou seu celular para ser periciado. Oliveira afirmou que no dia 6 de janeiro Torres aprovou o plano de policiamento do dia 8. E que, antes de viajar aos EUA, Torres sequer o apresentou para o governador Ibaneis Rocha ou para os comandantes das polícias.