O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a empresários, em Buenos Aires, que o BNDES vai voltar a financiar projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior e países vizinhos, como um gasoduto entre Argentina e Brasil. Essa prática foi muito criticada e interrompida após os escândalos revelados pela Operação Lava Jato. Até hoje Cuba e Venezuela têm parcelas a serem pagas.
“Se há interesse dos empresários e do governo e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, quero dizer que vamos criar as condições para fazermos o financiamento que a gente puder fazer para ajudar no gasoduto argentino”, disse Lula durante discurso no país vizinho, onde se reuniu com o presidente argentino Alberto Fernandez.
A Argentina busca US$ 689 milhões para o segundo trecho do gasoduto, que permitirá ao país substituir as importações de gás da Bolívia. E, com isso, abrir espaço para exportar ao Brasil. O ministro da Economia argentino, Sergio Massa, disse que os países têm uma “enorme oportunidade”: “O Brasil, de ter acesso a gás mais barato do que hoje compra da Bolívia; e a Argentina, de abrir um mercado com volumes que até agora só pode despachar para a Central Energética Uruguaiana ou para o Chile”.
‘Sonho de verão’
O financiamento do gasoduto argentino de Vaca Muerta não passa pelo crivo do BNDES. A opinião é do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente da instituição no governo de Fernando Henrique Cardoso. “Isso é um sonho de uma noite de verão”, disse o especialista.
Mendonça de Barros notou, contudo, que o BNDES é “uma instituição com mais de 70 anos (foi fundado em 1952)” e tem “critérios rigorosos” para conceder esse tipo de financiamento. “Isso só vai acontecer se a Argentina pudesse oferecer garantias muito fortes”, ponderou. “Algo que não é possível na atual conjuntura.” Ele lembrou que o país vizinho passa por severa crise financeira, com inflação que em torno de 95% ao ano.
O presidente Lula também defendeu o projeto de moeda comum entre Brasil e o país vizinho, que será usada em transações comerciais, sem que o peso e o real deixem de existir.