A crise em torno da indicação do ex-advogado-geral da União, André Mendonça, a uma vaga de ministro do STF esquentou de vez. Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro sob as bênçãos da bancada evangélica, o seu nome foi posto na geladeira pelo presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Na tarde de ontem, o senador divulgou uma nota dura em que disse não admitir ser “ameaçado, intimidado, perseguido ou chantageado” e afirmou que a nomeação de ministro do STF não é “ato unilateral e impositivo do Chefe do Executivo”.
“Querem transformar a legítima autonomia do presidente da CCJ em ato político e guerra religiosa”, insinuando haver preconceito por ser judeu. A nota de Alcolumbre teria sido uma reação à declaração de Bolsonaro de que o senador “não age dentro das quatro linhas da Constituição” ao travar a sabatina de Mendonça.
O momento não poderia ser pior. Na segunda-feira, Alcolumbre almoçou com o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente. O presidente da CCJ chorou suas mágoas em relação ao governo e Flávio marcou para hoje um almoço de Alcolumbre com o seu pai. Agora tudo parece ter voltado à estaca zero.
A movimentação de Alcolumbre tem um único objetivo: fazer Bolsonaro ignorar a promessa aos evangélicos e trocar Mendonça pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que estaria a par da estratégia. A rigor, só precisa cozinhar a sabatina por mais dois meses. Aí começa o recesso parlamentar que desemboca no ano eleitoral, quando os senadores terão mais com o que se preocupar.