Nem mesmo a recente trégua entre o presidente Jair Bolsonaro com os outros poderes pode reverter os impactos previstos para o PIB em 2022. A desvalorização do real frente ao dólar, encarecendo os alimentos e combustíveis, colocou no radar de economistas a perspectiva de juros mais elevados e crescimento mais tímido no ano que vem. O cenário pode ser agravado por um eventual racionamento de energia. O próprio ministro Paulo Guedes (Economia) admitiu que o ‘barulho político’ pode desacelerar o crescimento econômico.
O consenso é de que o discurso de Bolsonaro nas manifestações de 7 de Setembro elevou o grau de incerteza na economia a um novo patamar. “Isso poderia gerar muito barulho, isso poderia desacelerar o crescimento, mas não mudaremos a direção. Interrompemos a rota errada. Estamos de volta”, disse o ministro, durante um evento transmitido pela internet.
Com o cenário político atual e o resultado da inflação no país, o Brasil pode enfrentar uma “estagflação” – estagnação econômica e inflação alta. Mas a avaliação de alguns economistas é que o Brasil vive, há décadas, um contexto propício a esse fenômeno. Isso porque, nos últimos 10 anos, de 2012 a 2021, a média de crescimento anual do PIB deve ficar em 0,4%, e a da inflação anual ficará em 5,9% pelo IPCA. Ou seja, recessão e queda da atividade econômica com disparada dos preços.
Pressionados pela alta inflação, os bancos centrais de países emergentes já pensam ou implementaram uma política de elevação de juros. É o que pode acontecer por aqui, uma vez que os juros são usados pelo Banco Central (BC) do Brasil para tentar controlar a inflação. Quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a cair. A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, está atualmente em 5,25% ao ano. Com o reajuste do Copom no próximo 22 de setembro, a expectativa é que a taxa fique em 6,25% ao ano, ou até mais.