O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, parece ter encarnado o seu antecessor, o general Eduardo Pazuello. Obedecendo a uma “orientação” do presidente Jair Bolsonaro, revogou a autorização para que Estados e municípios imunizassem adolescentes entre 12 e 17 anos. “O presidente me cobra todo dia essas questões de vacinação, sobretudo com essa questão dos adolescentes”, disse. Já Bolsonaro negou que fosse uma ordem. “A minha conversa com Queiroga não é uma imposição. Levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, vejo e chega ao meu conhecimento. A OMS é contra a vacinação de 12 a 17 anos”, disse. O que não é verdade. Segundo fontes no Palácio do Planalto, Queiroga tem procurado fazer acenos a Bolsonaro para se manter no cargo.
A suspensão da vacinação de adolescentes, anunciada pelo Ministério da Saúde, não passou pelas equipes de especialistas do Programa Nacional de Imunização e da Câmara Técnica da pasta. Os conselhos de secretários de saúde estaduais e municipais também não foram consultados. A Anvisa divergiu do ministro e mantém a recomendação de uso do imunizante da Pfizer em adolescentes de 12 a 17 anos. Segundo a agência, está em análise a morte de um jovem que havia sido vacinado. Mas, além de ser um caso isolado, não há até o momento qualquer indício de relação entre o óbito e a imunização.
São Paulo, Rio e pelo menos outras oito capitais decidiram ignorar Queiroga e seguir imunizando seus jovens. Outras cinco interromperam a vacinação, e quatro aguardam mais informações. Para o epidemiologista Pedro Hallal, a decisão do Ministério da Saúde é “equivocada e absurda”. “Por mais que seja verdade que a maioria dos casos em adolescentes é leve, repito a maioria porque existem casos graves, a vacina é para a proteção coletiva, quanto mais gente vacinada melhor e para isso os adolescentes são extremamente importantes para o PNI (Programa Nacional de Imunização)”, disse o especialista.