O dia seguinte à denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro (PL) e outros 33 aliados revelou detalhes da trama golpista com a divulgação da delação do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente.
O ministro Alexandre de Moraes (STF) derrubou o sigilo do acordo que Cid firmou com a Polícia Federal. Além disso, deu 15 dias para que os 34 denunciados apresentem suas defesas por escrito.
Segundo o ministro, “não há mais necessidade da manutenção desse sigilo, devendo ser garantido aos denunciados e aos seus advogados total e amplo acesso a todos os termos da colaboração premiada”.
Ao firmar a colaboração, Cid indicou quais benefícios pretendia obter, como pena máxima de dois anos de prisão. E se comprometeu, entre outras coisas, a analisar documentos e provas, reconhecer pessoas, prestar depoimentos e auxiliar peritos.
Reuniões
Sobre a tentativa de golpe, disse que participou de reuniões em que militares discutiram uma possível intervenção e confirmou ter recebido do general Braga Netto dinheiro vivo em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada para organizar as ações golpistas.
Contou que viu o ex-presidente editando a “minuta do golpe” e que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e seu irmão Eduardo Bolsonaro (PL-SP) discordaram sobre qual deveria ser a reação do pai após a derrota nas eleições. Segundo Cid, Flávio foi contra um golpe de Estado, enquanto Eduardo apoiou a ideia.
Sobre as joias sauditas, afirmou que, junto com seu pai, o general Mauro Lourena Cid, repassou US$ 86 mil a Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda das peças recebidas como presente. “Eu não participei de nenhum planejamento detalhado, de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente”, afirmou Cid.
STF
O STF deve começar a julgar a denúncia entre o fim de março e o começo de abril. Esse é o prazo para que as partes apresentem suas manifestações e a Corte consiga dar início ao andamento da ação penal.
Ministros do Supremo devem contestar a decisão de Moraes de levar o julgamento de Bolsonaro à Primeira Turma da Corte, argumentando que o caso deveria ser julgado por seus 11 membros no plenário do tribunal.
Os ministros que não integram a Primeira Turma (formada por Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux) argumentam que os réus dos atos golpistas de 8 de Janeiro foram julgados no plenário e que o mesmo tem de ocorrer com Bolsonaro.
Reação de Bolsonaro
Reagindo à denúncia, Bolsonaro afirmou no X que o “mundo está atento” ao que está acontecendo no Brasil, e que o “truque” de acusar líderes da oposição de golpe também acontece na Venezuela, Nicarágua, Cuba e Bolívia.
“A cartilha é conhecida: fabricam acusações vagas, se dizem preocupados com a democracia ou com a soberania, e perseguem opositores, silenciam vozes dissidentes e concentram poder”, escreveu, acrescentando que “a liberdade irá triunfar mais uma vez”.
E no Congresso
Entre os parlamentares, o clima esquentou e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu uma bronca depois que deputados da oposição e da base governista travaram, pelo segundo dia, uma batalha de gritos.
“Eu quero dizer a Vossas Excelências que se estão confundindo esse presidente, uma pessoa paciente e serena, com um presidente frouxo, vocês ainda não me conhecem”, afirmou.
Já Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, afirmou que a anistia não está em discussão e não interessa aos brasileiros. “Quando falamos sobre isso, a todo instante, a gente está de novo dividindo a sociedade com um tema que não é um assunto dos brasileiros.”