Apesar de haver mais de 100 pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, a chance de algum deles prosperar é zero. Claro, no cenário de hoje. Mas dificilmente isto mudará também nos próximos meses, mesmo com Bolsonaro elevando ainda mais o tom contra os outros Poderes (Judiciário e Legislativo). Haverá ameaças, sim. Mas, isto é uma estratégia de ambos os lados. O presidente ataca e faz acenos (cada vez maiores) de desrespeito à Constituição, inflamando seus apoiadores, e o Congresso Nacional e o Poder Judiciário (especialmente o STF) vão responder com alertas de que há consequências para estas declarações.
A avaliação é de dois deputados federais goianos muito bem relacionados na cúpula do Congresso Nacional e com bom trânsito no Palácio do Planalto ouvidos pelo ENTRELINHAS GOIÁS. Embora sejam apoiadores do presidente Bolsonaro, não concordam com as ameaças antidemocráticas do presidente. Mas, afirmam, que não passam de frases de efeito em momentos específicos. “As declarações de Bolsonaro no 7 de Setembro não causaram surpresa em ninguém aqui no Congresso. Claro, há uma pressão externa para haver resposta. Mas, surpresa mesmo, não houve. Ele falou para sua militância. Claramente, ficou entusiasmado com a quantidade de pessoas que foram às ruas lhe dar apoio. Mas, daí para concretizar as suas falas, há um longo e duvidoso caminho”, diz um deputado.
Outro parlamentar goiano disse acreditar que há, no núcleo do presidente Bolsonaro, muitos que acreditam ser positivo haver um processo de impeachment. “Embora é uma avaliação arriscada, faz sentido na ótica dos bolsonaristas. Se o Congresso abrir um processo de impeachment, dará farta munição para a militância do presidente e para ele próprio. Ou seja: vamos antecipar, de vez, as eleições de 2022 e, com isso, deixar de lado as soluções para os reais problemas que atingem o Brasil”, afirma. Faz sentido.
No que depender do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), por enquanto o Congresso não vai analisar nada. Aliado de Bolsonaro, o deputado fez um pronunciamento em que condenou “bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque” e garantiu que a “Constituição jamais será rasgada”, mas não fez qualquer menção aos mais de 130 pedidos de impeachment do presidente que repousam em sua gaveta, tampouco à ameaça de ignorar decisões judiciais. A crítica mais direta a Bolsonaro se referiu à insistência deste no voto impresso, apesar de a Câmara já ter derrubado a proposta.