Metade da Câmara, 70% da economia e 56% da população do Brasil. Esses números de Sul e Sudeste justificam a busca conjunta por protagonismo político dessas duas regiões. São esses os argumentos do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) em defesa do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), formado em 2018, mas oficializado recentemente.
“Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos — que é o que nunca tivemos — protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos”, afirmou em referência a Norte e Nordeste.
O que poderia ser apenas a apresentação de uma aliança estratégica acabou soando como uma fala divisória e preconceituosa, especialmente ao comparar o Nordeste com “vaquinhas que produzem pouco”. “Se não, você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito”, afirmou ao mencionar uma das disputas da reforma tributária.
Com a repercussão negativa, Zema usou ontem a rede social para afirmar que a união não é contra ninguém, mas para unir esforços.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) defendeu a frente Sul-Sudeste. Mas esclareceu que o grupo quer mais equilíbrio e não “discriminar” alguma região. “Nunca achamos que os estados do Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais estados. Ao contrário: a união deles em torno de pautas de seus interesses serviu de inspiração para que, finalmente, possamos fazer o mesmo, nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante aos estados do Sul e Sudeste”, disse.
Reação do Nordeste
O discurso de Zema não foi bem recebido pelo Consórcio Nordeste, que reúne os governadores da região. “Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual”, disse em nota. “É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.”
O governador Ronaldo Caiado (UB) também criticou. “O Centro-Oeste, no que depender de Goiás, será sempre este elo forte para nunca deixar avançar nenhum sentimento separatista, o que é responsabilidade de todos nós, governadores e governadoras”, declarou pelas redes sociais. “Sobre a polêmica a respeito de falas de colegas governadores neste final de semana, meu sentimento é que a reforma tributária está estressando todos nós”, completou.
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