Os senadores da CPI da Covid, que hoje formam um grupo para acompanhar os desdobramentos das investigações, pretendem nos próximos dias chamar para depor Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde. Na sexta-feira, ele publicou uma nota técnica barrando as diretrizes aprovadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema de Saúde (Conitec).
Na contramão de virtualmente toda a comunidade científica, Angotti defendeu a eficácia do chamado “kit-covid” e questionou as vacinas contra a doença. O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, avisou que vai apresentar a convocação do secretário, e ele deve ser chamado em outras duas comissões. No ano passado, Angotti teve o indiciamento pedido pela CPI por epidemia com resultado de morte (artigo 267 do Código Penal) devido a sua defesa de tratamentos ineficazes.
Em resposta a Angotti, um grupo de professores da Faculdade de Medicina da USP deu início a no sábado um abaixo-assinado no qual classifica a nota técnica como “uma vasta lista de estultices” que “transgride os princípios da boa ciência”. Na manhã de hoje, o documento já ultrapassava 50 mil assinaturas.
Enquanto isso, a covid-19 segue fazendo estragos. No domingo, quando normalmente há subnotificação, foram registrados 84.230 novos casos da doença no País, resultando numa média móvel de 148.212, o sexto recorde consecutivo, com alta de 309% em relação ao período anterior. Goiás ultrapassou a marca de 1 milhão de contaminados desde o início da pandemia. As mortes crescem também, mas em patamar bem menor que as dos contágios, graças à vacinação. No País, ontem mais 166 pessoas morreram de covid-19, com média móvel de 292, a maior desde 1º de novembro, com alta de 129%. Em Goiás, foram registradas 11 mortes, totalizando 24.869 desde o início da pandemia.
As mortes só não estão num patamar, mais elevado por conta das vacinas, mas muitos ainda resistem a tomá-las. No Rio, 90% dos internados por covid-19 não completaram o esquema vacinal, e 38% não tomaram nenhuma dose. E ainda há os que estão expostos à doença por não poderem ser vacinados. Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de mortes de crianças de zero a quatro anos no Brasil desde o início da pandemia, 1.220, é quase quatro vezes maior que os 324 entre cinco e 11 anos.