Os ataques de manifestantes extremistas pró-Bolsonaro neste domingo (8/1) em Brasília desencadearam uma reação de praticamente todos os Poderes do País. O vandalismo generalizado, sob o olhar complacente da Polícia Militar do Distrito Federal, levou à decretação de intervenção federal na área de segurança do DF pelo Executivo e ao afastamento por 90 dias do governador Ibaneis Rocha (MDB). Por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Grupos criminosos saíram da frente do QG do Exército, incluindo os que chegaram a Brasília, em uma centena de ônibus no fim de semana, e tomaram a Praça dos Três Poderes. Por volta das 15 horas, invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Alguns extremistas usavam máscaras de gás e capacetes.
Enquanto a invasão acontecia, PMs filmavam e conversavam com os criminosos sem intervir. No Palácio do Planalto, os extremistas roubaram as armas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O estrago já estava feito quando, após a decretação da intervenção, a polícia começou de fato a agir.
Segundo as autoridades do DF, 300 pessoas foram presas e o controle dos prédios públicos foi retomado por volta das 20 horas.
Governador afastado
Ibaneis Rocha chegou a gravar um pedido de desculpas ao presidente Lula e aos presidentes dos demais Poderes. Não foi por falta de aviso. Grupos bolsonaristas articulavam a ação em Brasília abertamente em redes sociais desde, pelo menos, desde terça-feira (3/1).
Nas mensagens, organizavam-se viagens “com tudo pago” para a capital federal e, prevendo enfrentamentos, convocam-se ex-policiais e outras “pessoas com porte de arma”. Os grupos começaram a se deslocar para Brasília na sexta-feira, sem que um esquema reforçado de segurança fosse montado no Distrito Federal.
À tarde, Lula, que estava em Araraquara (SP), decretou a intervenção na Segurança Pública do DF, afirmando que as autoridades do governo distrital tiveram “incompetência, má vontade ou má-fé”. Especialmente após os atos de vandalismo no dia de sua diplomação. O petista também responsabilizou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem se referiu repetidamente como “genocida”. Secretário-executivo do Ministério da Justiça e homem de confiança do ministro Flávio Dino, Ricardo Capelli é o interventor.
Já era início da madrugada desta segunda-feira (9/1) quando o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento do governador Ibaneis por 90 dias. A decisão, tomada no âmbito dos inquéritos dos atos antidemocráticos, atendeu a um pedido da Advocacia-Geral da União e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O presidente da República voltou a Brasília ontem à noite e vistoriou os estragos no Palácio do Planalto e no STF. Também confirmou para esta segunda-feira (9/1) uma reunião com os 27 governadores, às 18 horas, para discutir ações contra os movimentos extremistas pelo País.
Outros Poderes
Além de Lula, os líderes dos demais Poderes reagiram ao ataques terroristas. A presidente do STF, Rosa Weber, disse em nota que a “Suprema Corte não se deixará intimidar por atos criminosos e de delinquentes infensos ao estado democrático de direito”.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de condenar a invasão, cobrou que os senadores “independentemente de posições ideológicas ou políticas”, se manifestassem em defesa do Parlamento. Ele marcou para hoje uma sessão do Congresso para confirmar a intervenção na segurança do DF. Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o Congresso “não dará espaço para vandalismo e baderna”.
Nos bastidores, os ministros do STF responsabilizam o ministro da Defesa, José Múcio, por conta de sua “ação fraca” diante dos atos antidemocráticos. Ele defendia que as manifestações estavam se esvaziando naturalmente, o que se mostrou falso.
Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) só se manifestou seis horas após os ataques. Dos EUA, disse que atos violentos “fogem à regra” e os comparou a atos da esquerda em 2013 e 2017. Também negou envolvimento nos ataques. “Repudio as acusações, sem provas, a mim atribuídas por parte do atual chefe do Executivo do Brasil”, concluiu. Aliás, foi o seu primeiro reconhecimento público de que Lula é o presidente.
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