O tenente-coronel Mauro Cid deve confessar, mas não vai assumir a culpa sozinho pelo esquema de venda e recompra de joias: pode envolver o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de forma direta. É o que revela o seu novo advogado, Cezar Bitencourt, para a revista Veja.
Preso há três meses por falsificar cartões de vacinação, Cid admitirá que vendeu nos Estados Unidos peças presenteadas ao governo brasileiro, transferiu o dinheiro dessa negociação para o Brasil e entregou-o em espécie a Bolsonaro.
O advogado Bitencourt afirmou que ele optou por uma confissão espontânea, que servirá de atenuante na hora da definição da pena, assim como o fato de o crime ter sido cometido “em cumprimento de ordem de autoridade superior”.
O tenente-coronel deve deixar claro que o ex-presidente sabia que alguns dos procedimentos eram totalmente irregulares e outros, criminosos. “A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro”, disse Bitencourt. “Mas o dinheiro era do Bolsonaro.”
O nome de Cid aparece quase diariamente em evidências coletadas pela Polícia Federal e na CPMI do 8 de janeiro. O caso das joias e a trama golpista ganharam fôlego com as mensagens descobertas em seu celular, na sua caixa de e-mail e em relatórios do Coaf. Sua confissão complica (ainda mais) a situação de Bolsonaro.
Quebra de sigilos
Para investigar se o dinheiro da venda das joias chegou de fato até o ex-presidente, o ministro Alexandre de Moraes (STF) autorizou a quebra do sigilo fiscal e bancário de Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. Também autorizou o pedido de cooperação internacional feito pela PF para solicitar aos EUA a quebra de sigilo bancário das contas dos investigados no caso das joias.
O celular que o advogado Frederick Wassef usava para falar exclusivamente com Bolsonaro está entre os quatro apreendidos na noite de quarta-feira pela PF. Dois aparelhos estavam no bolso de Wassef e dois, no seu carro, que foi revistado.
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