Segundo pesquisa da Data Folha, 70% dos brasileiros avaliam que há corrupção no governo, em particular no Ministério da Saúde, e 64% acreditam que o presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento disso. O único grupo em que não há visão predominante de que há corrupção é o dos empresários. Entre eles, 50% acreditam haver irregularidades, contra 48% que discordam, um empate na margem de erro. Outro dado da pesquisa chama atenção: pela primeira vez, mais da metade dos brasileiros aprovam um impeachment: 54%.
O clima de confronto entre o Executivo e, do outro lado, Legislativo e Judiciário não arrefeceu ao longo do fim de semana. Na sexta-feira, após Bolsonaro questionar a realização das eleições no ano que vem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não aceitaria retrocessos à democracia e classificou como “inimigo da nação” quem tentasse algo nesse sentido. Repetidamente ofendido por Bolsonaro, o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso, afirmou que tentativas de impedir as eleições seriam crime de responsabilidade. Até o deputado Arthur Lira (PP-AM), presidente da Câmara e aliado do governo, acabou criticando manifestações políticas de militares e “intentos antidemocráticos”, após tentar colocar panos quentes na crise.
Paralelamente à investigação de possíveis fraudes na compra de vacinas, a CPI da Pandemia está tentando traçar um organograma que mostre a cadeia de comando do esquema. São investigados ministros, aliados do governo e até os filhos do presidente. Senadores já têm indícios de que orientações e pressões para negociações de imunizantes vinham diretamente da Casa Civil, na época comandada pelo general Braga Netto.
O presidente publicou ontem nas redes sociais um vídeo de 2015 no qual o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) falava de uma auditoria pedida pelo partido sobre as eleições de 2014. Bolsonaro omitiu, porém, que a investigação dos tucanos não encontrou indícios de fraude.
Integrantes do gabinete do presidente no Palácio do Planalto estão preocupados com o cansaço físico e mental de Bolsonaro, que está sofrendo de insônia há dias, e tem enviado mensagens em grupos ao longo da madrugada. Segundo um integrante do gabinete presidencial, ele tem recebido mensagens do presidente às 2h, 4h, 6h da manhã, o que denotaria que Bolsonaro não está dormindo.