Embora a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid tenha sido o ponto de partida para a investigações sobre um plano para manter ilegalmente no poder o ex-presidente Jair Bolsonaro, o militar tem dito a interlocutores que nunca acusou o antigo chefe de tramar um golpe.
Cid, que nesta segunda-feira (11/3) volta a depor à Polícia Federal, estaria irritado com o vazamento de trechos de seu depoimento anterior. “Não sou traidor, nunca disse que o presidente tramou um golpe. O que havia eram propostas sobre o que fazer caso se comprovasse a fraude eleitoral, o que não se comprovou e nada foi feito”, teria dito ele a uma pessoa próxima, segundo a revista Veja.
O problema é que o depoimento de Cid não é o único elemento de que a PF dispõe. Mensagens dele obtidas pelos agentes dizem que Bolsonaro era instado a uma me-dida “mais pesada” e, “obviamente, utilizando as forças [Armadas]”.
Além disso, a PF encontrou no celular do ex-major Aílton Barros prints de mensagens trocadas com Cid e com o presidente que reforçam os indícios de uma tentati-va de anular as eleições de 2022.
Complicada
Aos olhos da PF, a situação de Cid é complicada. O antigo ajudante de ordens do ex-presidente omitiu em sua delação a reunião ministerial de julho de 2022, na qual foi discutida a “dinâmica golpista”, descoberta através de documentos e outras teste-munhas.
No depoimento desta segunda-feira, os agentes esperam que o tenente-coronel cor-rija a omissão e dê mais detalhes sobre o evento. Do contrário, seu acordo de dela-ção premiada pode ser cancelado, o que o mandaria de volta para a prisão.
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